Detran-SP refina governança para promover transformação intramuros
12/07/2024

São Paulo, 12 de junho de 2024 - Com quase cem anos de trajetória, pode-se dizer que o Departamento Estadual de Trânsito de São Paulo (Detran-SP) é um antigo conhecido das pessoas. Essa intimidade, no entanto, como é natural às organizações do setor público e privado, nem sempre é sinônimo de unanimidade. Para alcançar índices cada vez mais altos de satisfação da população, o Detran-SP deu partida a um plano de transformação. Uma profunda reestruturação – praticamente uma refundação, como se diz dentro do órgão –, iniciada em 2023 com um novo pacto com equipes e sociedade. Esse pacto, esmiuçado no recém-lançado livro “Estratégia Detran-SP 2023-2030”, prevê que o departamento chegue ao seu centenário, em 2031, com transparência e diálogo, alta performance e segurança viária. Premissas que iluminam a autarquia também por dentro, a partir de um projeto de governança que põe servidores para trabalhar de modo colaborativo, em rede.
Governança Multinível em Rede (Multigov), o projeto para renovar o Detran-SP internamente, começou em março com cerca de 90 funcionários de idades, posições e áreas diferentes, divididos em equipes encarregadas de idealizar e formatar propostas para reprogramar a autarquia. Os participantes já chegaram aquecidos: vieram de uma iniciativa estratégica realizada ainda em 2023, quando, após um raio-x do Detran-SP, formaram-se grupos ou squads (esquadrões, em inglês) multidisciplinares para atuar em variadas frentes, todas alinhadas a um planejamento para o futuro que então começava a se desenhar.
Para o papel de mentora dessa turma toda, foi convidada a professora Patrícia de Sá Freire, da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Pioneira, ela é uma das maiores especialistas do Brasil em um conceito de governança capaz de unir pessoas com trajetórias, visões e anseios diferentes pela resolução de questões que são comuns a todas, com confiança e responsabilidade compartilhadas.
A ideia de governança em rede permeia toda a estratégia do Detran-SP até 2030: ela norteia, por exemplo, os frequentes intercâmbios com outras instituições de trânsito e a criação do Sistema Estadual de Trânsito de São Paulo (Sistran-SP), órgão colegiado que reúne entidades dos três níveis desse ecossistema – estadual, municipal e nacional. A revisão de processos e de normas regulatórias, o desenvolvimento de pessoas e a modernização tecnológica, tripé do Detran-SP desde 2023, também são linhas costuradas com a agulha da cooperação, da ideia de responsabilidades compartilhadas e do engajamento por trabalho colaborativo.
Dentro da autarquia, a governança multinível em rede começa a se traduzir em iniciativas como a criação de um canal de acolhimento e suporte para os funcionários, um programa de capacitação e valorização de talentos e o desenvolvimento de uma plataforma de dados que guie os servidores rumo à eficácia, no dia a dia. Vale lembrar que a publicação do livro com o mapa estratégico do Detran-SP é uma forma de dar transparência ao movimento de mudança cultural que acontece dentro do órgão.
“Um dos pilares da nossa estratégia é a implementação de um modelo de governança no Detran-SP, que passa a funcionar como óculos, alterando a nossa forma de ver o mundo, de ver a gestão e a relação entre os atores internos e externos”, disse Hott, ao abrir o segundo encontro dos times envolvidos na transformação interna do órgão. Com formato de workshop e duração de um dia inteiro, o evento teve explanação de Patrícia, rodas de debate e trabalho e apresentação das propostas para repaginar o Detran-SP por dentro. Ao todo, são seis projetos idealizados, elaborados e defendidos por quatro equipes.
“Somos o maior departamento de trânsito do hemisfério sul. Isso não é trivial. Temos uma responsabilidade de mais de 100 milhões de atendimentos por ano. Mais de mil CNHs emitidas por dia. Por isso, o evento de hoje é um novo marco”, disse Hott.
Ao relembrar o caminho trilhado desde o lançamento do mapa estratégico do Detran-SP, em junho de 2023, o balanço feito pelo executivo foi positivo. “Foi um ano bastante profícuo em iniciativas. Estamos avançando em um ritmo interessante. Era comum que alguns serviços e processos do Detran-SP levassem meses para ser concluídos e entregues. Conseguimos baixar para dias e agora estamos reduzindo para minutos”, disse.
“É uma mudança profunda. Tínhamos serviços de fiscalização que rodavam na aba de veículos, negócios de habilitação que aconteciam em fiscalização. Não era orgânico. Era preciso remodelar. Fizemos um mergulho na constituição de projetos estratégicos, que são transformadores, estamos desenhando um novo aplicativo e um novo portal, um novo centro de exames práticos, jornadas de hiper automação, plataformas de dados valiosos que pautam o uso de recursos, o redesenho de processos e o diálogo com a sociedade.”
Conheça os projetos
Os seis projetos apresentados no workshop recém-realizado na sede do Detran-SP foram uma seleta das mais de oitenta ideias que surgiram quando as noventa cabeças foram reunidas para pensar a transformação interna pela primeira vez, em março. O filtro foi feito pela professora Patricia de acordo com o Princípio de Pareto, também chamado de regra 80/20, segundo o qual pode-se obter 80% de impacto com apenas 20% de esforço.
As propostas foram defendidas ao fim do último encontro, diante de uma banca de avaliadores formada pelo vice-presidente, José Hott, e pelo assessor de gabinete Iberê Fernandes, com supervisão de Patrícia. No terceiro encontro, já se verá e discutirá o status de cada projeto. Até lá, as propostas serão entregues à equipe da área estratégica do Detran-SP, com quem os times se reunirão para organizar e avançar com os programas. “Este é um dia que renova o nosso ânimo de seguir com o projeto de transformação do Detran-SP, porque ela não é fácil”, disse Hott, ao encerrar o encontro.
- Projeto 1 - Sistema contínuo de reuniões, fóruns e arenas colaborativas
Pontos principais: alinhamento prévio de pautas, comunicação não violenta, escuta ativa, troca de saberes, mudança cultural pela criação de hábitos - Projeto 2 - Painéis de indicadores e repositório central de informações
Pontos principais: proporcionar acesso aos dados da organização, transparência à gestão, embasamento para decisões a serem tomadas, com treinamento e suporte - Projeto 3 - Programa Contínuo de Capacitação e Desenvolvimento de Talentos
Pontos principais: valorização e retenção de talentos, trilhas de desenvolvimento personalizadas, cultura da inovação e do aprendizado contínuo, avaliação 360°. - Projeto 4 - Reforma Tecnológica Abrangente
Pontos principais: atualização constante de sistemas, integração de tecnologias avançadas e adoção de tecnologias e recursos inteligentes, eficientes e seguros - Projeto 5 - Criação de Canal Seguro Interno para Denúncias, Elogios e Sugestões
Pontos principais: acolhimento e escuta ativa ao funcionário, segurança psicológica garantida pela contratação de uma empresa de fora, estímulo a cultura participativa - Projeto 6 - Conselho Consultivo Multissensorial
Pontos principais: troca de informação, possibilidade e incentivo a que todos participem da gestão, contribuindo para a sustentabilidade da organização
Metodologia: do Nobel ao corporativo
O cabedal revolvido pelo projeto Governança Multinível em Rede (Multigov) é extenso, e pode ser encontrado no Wiki Detran, a versão da casa da enciclopédia digital Wikipedia.
Modelo europeu adotado também por Estados Unidos e Canadá, antes de chegar ao Brasil pelo Laboratório ENGIN – do Núcleo de Engenharia da Integração e Governança do Conhecimento (ENGIN), da UFSC, instituição à qual Patrícia de Sá Freire é vinculada –, a governança multinível pressupõe algumas condições para a cooperação. A partir dos problemas, dores ou demandas, como se queira chamar, são definidos objetivos, planos e ações para atingi-los em conjunto. O êxito de cada iniciativa depende da coesão da rede.
Além do reconhecimento de que possuem problemas em comum a resolver, as pessoas devem ter um mínimo de confiança para dividir saberes e responsabilidades. A transparência é fundamental para se criar confiança e vínculo entre as pessoas, para se conquistar apoios e investimentos necessários. Também é essencial contar com uma liderança segura, capaz de escutar, ensinar, aprender e articular com todos.
“Não existe governança multinível sem capacitação da liderança. A liderança precisa saber dar feedback e saber escutar, para que todos tenham voz”, disse Patrícia, no workshop. “A governança multinível traz outras camadas de governança. As relações não são apenas top-down, ou de cima para baixo, mas também down-up, de baixo para cima.”
Elinor Ostrom, primeira mulher a conquistar o Nobel de Economia, em 2009, por suas pesquisas no campo da governança, é evocada com frequência por Patrícia para lembrar o valor da soma de esforços de indivíduos distintos, unidos por um bem comum. Em sua teoria sobre a “tragédia dos comuns”, Ostrom aponta como, em vez de levar à destruição de bens públicos e recursos coletivos, por falta de sintonia, o encontro de interesses isolados de grupos diferentes pode resultar mais benéfico à economia e ao ambiente do que uma intervenção do Estado ou do mercado.
Uma entrevista de Ostrom ao programa brasileiro Globo Ecologia, um ano depois de vencer o Nobel, traz uma boa ilustração da sua teoria. “Se fôssemos um grupo de pescadores e vivêssemos num lago da Amazônia, onde a preocupação de cada um fosse ter seu próprio peixe, todos poderiam acordar cedo e pegar todos os peixes que conseguissem. As pessoas pegariam tanto quanto pudessem e elas seriam incapazes de conversar e resolver a situação. O que descobrimos no campo foi que, quando as pessoas podiam conversar e conquistar a confiança umas das outras de forma recíproca, elas eram capazes de resolver os problemas. Em vários casos, a comunidade se sai melhor do que o governo ou órgãos privados. A grande descoberta é que não existe um padrão único para chegar a uma solução, mas formas de lidar com os problemas.”
Sobre o Detran-SP O Detran-SP, órgão vinculado à Secretaria de Gestão e Governo Digital (SGGD), do governo paulista, trabalha incessantemente para prevenir sinistros e preservar vidas, com a meta de organizar um trânsito mais seguro e harmonioso entre todos os modais. O órgão segue comprometido em oferecer serviços de excelência aos cidadãos, baseados em valores como respeito, integridade, segurança e eficiência.
Atualmente, está implementando a transformação digital para melhorar a qualidade de vida dos paulistas, facilitando o acesso aos serviços públicos. Cerca de 93% dos atendimentos realizados nas unidades do Detran-SP integradas ao Poupatempo são feitos de forma digital.
Como o maior órgão executivo de trânsito do país, o Departamento de Trânsito Paulista é responsável por 28% da frota brasileira, com mais de 34 milhões de veículos registrados e mais de 25 milhões de motoristas habilitados em todo o estado. Mensalmente, emite aproximadamente 400 mil Carteiras Nacionais de Habilitação (CNHs) e 1,2 milhão de Certificados de Registro e Licenciamento Veicular (CRLVs). Em média, são emitidos mais de 136 mil documentos por dia.